quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cathecismo Civil, e Breve Compendio das Obrigações do Hespanhol; Conhecimento pratico da sua liberdade, e explicação de seu inimigo: Mui util nas actuaes circunstancias; posto em forma de dialogo (1808)












Nota: 

Ainda que não possamos precisar a data em que este catecismo espanhol foi publicado pela primeira vez, podemos dizer que uma das suas primeiras impressões (no original castelhano) consta entre as páginas do periódico Diario de Badajoz de 28 de Julho de 1808, e que muito provavelmente foi composto depois dos acontecimentos de 2 de Maio do mesmo ano em Madrid. O certo é que, até ao dito ano de 1808 acabar, este catecismo viria a ser publicado na Espanha (e também no México) pelo menos mais de uma dezena de vezes, inserido noutros periódicos ou estampado em forma de panfleto ou opúsculo, coexistindo diversas edições com algumas variantes e títulos diferentes, como por exemplo as seguintes:





Apesar de dirigida directamente ao público espanhol, a mensagem simples, concisa e ao mesmo tempo político-satírica deste catecismo ultrapassou fronteiras, tendo sido publicado na Inglaterra logo em Setembro de 1808 (se não antes), através do periódico The Monthly Register for September 1808 (pp. 146-147). Em Portugal, logo a seguir à saída dos franceses da capital em meados de Setembro do mesmo ano, também foram impressas diferentes edições, das quais podemos enumerar duas: para além da tradução que acima inserimos, temos constância da existência duma outra versão, anunciada na Gazeta de Lisboa, n.º 38, de 11 de Outubro de 1808, que se intitulava Doutrina Contradoutrina, Hespanhol Christão e Libertino Francez, ou Catecismo civil e breve Compendio das obrigações do bom Hespanhol: dado á luz, para correcção de huns, e divertimento de outros
A disseminação desta obra anti-napoleónica não se ficou por aqui: em 1809, a versão deste texto publicada em Sevilha foi traduzida para o alemão por Friedrich Schlegel, com o título Bürger-Katechismus und kurzer Inbegriff der Pflichten eines Spaniers, nebst praktischer Kenntniß seiner Freyheit und Beschreibung seines Feindes. Von großem Nutzen bey den gegenwärtigen Angelegenheiten. Gedruckt zu Sevillia und für die Schulen der Provinzen vertheilt, aparecendo inserida na quarta parte duma compilação de textos relativos ao levantamento espanhol (Sammlung der Aktenstücke über die spanische Thronveränderung - Vierte Abtheilung, Bd., Germanien, 1809, pp. 103-114), compilação esta publicada em Viena, sob os auspícios do Governo do Império Austríaco, que, aproveitando as dificuldades dos exércitos franceses na Península Ibérica, voltara a declarar guerra a Napoleão em Abril de 1809. Curiosamente, o escritor romântico Heinrich von Kleist inspirou-se precisamente na dita tradução alemã do catecismo espanhol (embora não o tenha seguido à letra, senão adaptando-o à mundividência germânica) para compor no mesmo ano de 1809 uma obra de dezasseis capítulos intitulada Katechismus der Deutschen. Abgefaßt nach dem Spanischen, zum Gebrauch für Kinder und Alte. In sechzehn Kapiteln. Heinrich von Kleist ambicionava publicar este virulento "catecismo dos alemães, redigido a partir do espanhol, para o uso de crianças e velhos" num periódico seu intitulado Germania, mas ambos projectos foram frustrados pela derrota da Áustria na batalha de Wagram. Apesar de ter sido publicado somente depois da morte do seu autor, este  "catecismo alemão" é, ao lado dos Discursos à nação alemã de Fichte (publicados em Berlim em 1808), uma das primeiras obras que aborda o fenómeno do nacionalismo, particularmente o germânico.